quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Armazenamento Artigo 1 - A UTOPIA DO SOTAQUE NEUTRO E SEU IMPACTO NOS ESTUDANTES DE LÍNGUA ESPANHOLA


CITAÇÃO: CAVALCANTE, Gênesis. A utopia do sotaque neutro e seu impacto nos estudantes de língua espanhola. Academia.edu , 2018.

ARTIGO: A UTOPIA DO SOTAQUE NEUTRO E SEU IMPACTO NOS ESTUDANTES DE LÍNGUA ESPANHOLA



Gênesis Láurence de Souza Cavalcante¹
Jaqueline Koehler²
 

RESUMO

Neste artigo apresentam-se conclusões sobre o sotaque neutro espanhol, demonstrando assim a inexistência do mesmo devido a vários fatores sociolinguísticos e a sua ineficiência para a aprendizagem dos estudantes de línguas cuja língua natal não seja o espanhol. Também abordando as dificuldades de aprendizagem nas quais os estudantes de língua espanhola encontram ao se defrontarem com uma fonética totalmente distinta da qual foram ensinados em sala de aula, reforçando a importância da conscientização do espanhol com língua diversificada e heterogênea em nível mundial. A língua espanhola por muitas vezes idealizada em uma forma utópica padronizada, seja ela em espanhol europeu ou espanhol neutralizado. Desta forma apresentando o conceito de xenofonética e a desvinculação do estudante no âmbito da comunicação natural com estrangeiros. Com o culto errôneo de um espanhol universal, o estudante deturpa a conversação com uma linguagem desprovida de naturalidade aos ouvidos do nativo que através da contestação do falante não nativo, tende a também desnaturalizar sua maneira de falar para com o estudante, imediatamente tratando-o como estrangeiro.

 

Palavras-chave: sotaque neutro, xenofonética, diversidade fonética.


ABSTRACT

The following article presents conclusions about the neutral Spanish accent by demonstrating the inexistence of it due to several sociolinguistic factors and its inefficiency for the learning of language students whose native idiom is not Spanish. It also points the learning difficulties that students of Spanish idiom encounter when they are faced with a completely different phonetics than they were educated in the classroom, reinforcing the importance of raising awareness of Spanish as a diverse and heterogeneous language worldwide. The Spanish language is also idealized in a standardized utopian way: European or neutralized. Therefore presenting the concept of xenophonetics and the student's disengagement in the context of natural communication with foreigners. With the erroneous cult of a universal Spanish, the student misrepresents the conversation with an unnatural idiom to the native's speaker, which, through the contestation of the non-native speaker, tends to also denaturalize his way of speaking to that student, immediately treating him as a foreigner.

 


Keywords: neutral accent, xenophonetics, phonetic diversity.





INTRODUÇÂO

O presente artigo está focado em apresentar o espanhol dito neutro como um fenômeno ineficiente para a linguagem falada ao estudante que deseja aprofundar-se na prática do idioma espanhol em um país estrangeiro, estando este sujeito a uma série de deficiências comunicativas caso não tenha ciência destes fatores sociológicos, culturais, históricos e linguísticos, que envolvem a fala. Também através deste, expõe-se a ineficiência da aprendizagem de apenas um sotaque, neutralizado ou não, pela diversidade exuberante de sotaques no mundo hispanofalante.

O espanhol é geralmente escolhido para ser estudado por sua semelhança com o português, porém muito além dos temidos “falsos amigos” esconde-se um problema pouco atendido pelos professores universitários, e ainda menos pelos professores de ensino fundamental, médio e técnico: “Qual espanhol devo aprender?”

É fato que, assim como o português, o espanhol não é único e integrado em todos os países falantes. As diferenças entre as línguas espanholas são mais do que gramaticais. Conforme afirma El Instituto Don Quijote:

Para entender el español hablado en Latinoamérica no sólo hay que tener en cuenta las diferencias lingüísticas de los distintos países y de las regiones. Además hay diferencias que tienen que ver con el nivel sociocultural de los hablantes, diferencias diastráticas, o con el tipo de población, zonas rurales y urbanas, hablantes monolingües o bilingües. El factor cultural, y en especial la escolarización, es un elemento nivelador que influye en la homogenización de las lenguas. (2009).


Cada “espanhol” carrega as particularidades dos seus falantes. O ensino da língua não tem caráter universal ou o pensamento de que o sotaque hispânico é polivalente sobre os demais sotaques. O espanhol dito “neutro” largamente utilizado nos ensinos fundamental e médio, tendo em vista que a pronúncia do mesmo não é aprofundada nestas fases, é cabido. A relevância do ensino da pronúncia como prioridade para o estudante é dada somente durante o curso superior. Levando-se também em conta que geralmente os ditos “cursinhos” não se aprofundam na fonética do espanhol, apenas se fixam na capacidade do estudante em se comunicar roboticamente, porém com logro da transmissão da mensagem que se quer passar, ou seja, a mera comunicação.

O estudante ou candidato a falante da língua espanhola, sempre se deparará com o efeito doravante chamado “Xenofonética” (do grego ξένος, translit. xénos: "estranho", e do francês phonètique, ligado ao fr. phonème 'fonema' e ao gr. phōnētikós 'relativo ao som, à palavra'). Cujo significado remete a estranheza do falante nativo ao se deparar com o seu idioma falado de maneira não natural. Tal fenômeno pode ser seguido de várias reações, uma delas é a xenofobia. O nativo percebe imediatamente que o estudante não é da região, ou até pode saber o país de onde ele vem baseado em seu sotaque. Ainda que não haja xenofobia durante uma xenofonética, o nativo tende a tentar corrigir o sotaque ou a entonação do estudante, fato que pode desencorajar a muitos. A mudança psicossocial dada ao tratar-se de um estrangeiro, muda a maneira com que o nativo trata, ou trataria em uma conversação comum, alterando assim drasticamente todo o código a ser utilizado.

O estudante deve de fato entender a importância dos múltiplos acentos e o contexto histórico no qual são envolvidos cada um dos sotaques. Não bastando este tentar aprender um espanhol único, uníssono ou robótico. Sendo tal espanhol, uma mentira para não falantes, uma utopia que só se justifica para fins de assimilação escrita.


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Não são raros os casos em que os estudantes de língua espanhola, ainda que muito esforçados, não consigam entender de maneira satisfatória a um nativo hispanofalante. O espanhol no qual a maioria dos estudantes, universitários ou não, são padronizados a aprender e ouvir é o espanhol da Espanha ou o dito “espanhol neutro”. Sendo mais comum, um espanhol caricato. Este espanhol é caracterizado por sotaques inexistentes ou suprimidos, linguajar robótico, palavras arcaicas, entonações exageradas e velocidade reduzida quase ao limite de uma pausa.

O tema da fonética do espanhol se tornou assunto tão sério a ser discutido, que pela primeira vez em 2006 a tão formal Real Academia Espanhola lançou um DVD juntamente com uma gramática, dando foco assim a grande variedade de sotaques da língua espanhola. Em contraponto, os estudantes universitários ainda em sua maioria, tem como base o espanhol neutro. Ainda que seja muito comum aos estudantes ganharem afinidade com algum sotaque a partir da nacionalidade de um ídolo, haverá uma mescla heterogênea em sua fala com o espanhol “padronizado” e o “idealizado”.

Vale ressaltar a diferença do sotaque neutro no qual tratamos neste artigo e o fenômeno da neutralización fonética, cujo sentido implica na oposição entre dois fonemas em um determinado contexto, de maneira que foneticamente estas soem iguais ainda que se trate de dois fonemas diferentes.

O espanhol neutro teve a sua finalidade primordial, o comércio de exportação da dublagem para o mundo.

El fin principal del español neutro, cuya ley fue sancionada en mayo de 1986 en Argentina, es comercial. Se procura que el producto sea exportable a la mayor cantidad de sectores del mercado y por eso se busca una lengua que prescinda de las peculiaridades nacionales. (PETRELLA, 1998).

Podemos acompanhar os infracitados fonemas no Alfabeto Fonético Internacional:

Ainda segundo PETRELLA, os traços morfossintáticos do espanhol neutro podem ser listados em:

· O uso de “tú” na segunda pessoa do singular, com suas correspondentes formas verbais.

· A ausência de “vosotros” e suas formas verbais para a segunda pessoa do plural.

· O pretérito perfeito composto indicativo privilegiado em usos nos quais a variedade rio-platense (relativo ao espanhol do Rio da Prata) emprega em contraste ao pretérito perfeito simples.

· Futuro imperfeito indicativo (morfológico) às vezes como única forma de futuro, outras vezes acompanhando o perifrástico.

· Uso do condicional em orações independentes para expressar desejo ou probabilidade. Por exemplo: “Deberias estas acá.”

· Frequente aparição de orações em voz passiva.

· Uso reiterado de perífrases verbais (como tradução literal do inglês) de: “deber / poder + infinitivo”.

· Pouco uso de outras perífrases verbais (progressivas, por exemplo). Exemplo: “En lugar de un conveniente Estás viendo las cosas, Ves las cosas.”.

· Tradução literal do inglês: “go home” por “a casa”, sem aparição do possessivo ainda que necessário

· Vasta presença do verbo “hacer”. Exemplo: “Sí, lo hice.”.

· Emprego dos verbos não pronominais em espanhol que são realmente pronominais em alguns dialetos, por exemplo o argentino. Exemplo: “Rie por todo”.

· Escasso uso de tempos compostos.

· Escassa presença de conectores extras oracionais.

· Uso do alomorfo de diminutivo “-ito”, ainda que com muita frequência se use “-illo”.

· As orações possuem estruturas sintáticas simples e isso determina uma menor presença de elementos coordenantes interiores e encabeçadores das orações.

· Imperfecto de Subjuntivo com valor de pretérito perfecto simple ou pluscuamperfecto Indicativo. Exemplo: “No creo que falleciera.”.

· Tradução de sujeto no enfático. Exemplo: “Piensa usted eso? Pase usted.”.

· Ordem de orações “imperativas” e “interrogativas”:

verbo + sujeto + objeto. Exemplo: “Pase usted” ou “¿Trajo usted esto?”.

· Leísmo às vezes. Exemplo: “No le he visto”.

· Loísmo às vezes. Exemplo: “Pensé en robarlo” (a alguém).

· Falta de concordância nominal e verbal, e conjugação do verbo “haber” em construção “impersonal”. Exemplo: “Hubieron problemas”


A distorção do sentido de uma frase empregado em um sotaque diferente do habitual local por um estudante pode ter um impacto na locução da mensagem tão grande quanto uma tradução direta do idioma nativo do estudante para o idioma no qual se quer transmitir a mensagem. A mensagem sem estilos característicos da região perde sentido, perde forma e não é interpretada da mesma maneira natural. Então se acaba por ocorrer a xenofonética como uma tradução textual sem fidelidade ao conteúdo. Diz o tradutor inglês Tim Parks: “se puede mantener la fidelidad a la intención del texto [...] y en algunas circunstancias, ser fiel a la intención del texto implica una mayor atención al registro y a otros elementos estilísticos que al sentido semántico exacto”.

O fato da xenofonética não pode ocorrer, por exemplo, em sotaques diferentes dentro da língua de um mesmo país. Este fenômeno pode caracterizar uma xenofobia de acordo com o contexto histórico e social do falante, porém não da mesma forma, pois a xenofonética caracteriza o individuo como “estrangeiro”. Além de mudar a fonética, a xenofonética pode caracterizar-se através da confusão de fala, uma mudança no código.

(...) se um falante empregar, digamos, um misto do português do Rio de Janeiro como o do Paraná, não será considerado “estrangeiro” em nenhuma das regiões, o mesmo não ocorrendo com o português e o espanhol, cuja fusão, na fala de um mesmo indivíduo, resultaria num código sentido como “estrangeiro” tanto nos países de língua espanhola quanto nos de língua portuguesa. (OLIVEIRA, 2012, pág. 85.)

Um bom exemplo de situação cuja pronúncia alteraria o sentido de uma frase e causaria uma xenofonética seria: um estudante de espanhol, ao visitar o Peru, engrandece a bandeira do país, porém ante a sua forma de pronunciar o /wa/ e o /we/, ocorre [ɣ] (fricativa velar sonora), por exemplo: «huaso», ['ɣwa.so] ('guaso'), «huevo», ['ɣwe.β̞o] ('güevo'), acaba por caracterizar seu acento como chileno, imediatamente irritando aos Peruanos. Devido ao estudante não ter ideia do contexto sociocultural, que envolve uma rivalidade histórica entre Chile e Peru, acaba por ter a mensagem totalmente distorcida, tornando um elogio em deboche.

Assim, o espanhol neutro é inalcançável, todos os países têm suas características, dentro destas características existem outros estilos que são delimitadores de regiões, idades e grupos. O homem tende a buscar caracterizar-se dentro de sua sociedade como maneira de destaque e diferenciação. Uma destas formas de destacar-se é através da língua. O estudante deve entender que o espanhol, assim como outras línguas, não é falado de maneira padrão. O espanhol famoso nas novelas mexicanas, tão agraciado por ajudar alguns estudantes em sua caminhada para compreensão, é um espanhol neutralizado e comercial, e ainda assim, não é totalmente neutro.

Segundo PETRELLA “[...] creemos que la participación de los lingüistas en la reacomodación del español ‘neutro’ para hacerlo más real, menos contradictorio y menos neutralizado, es necessária”. Demonstrando assim de forma lógica e prática a importância da utilização de material fonético atual e veraz ao estudar a língua espanhola, afim de que os alunos possam aprender e assimilar a real pronúncia das palavras e entender as variantes sociolinguísticas da língua na qual estão se deparando. Podendo desta forma, entender o espanhol primordialmente através de uma pronúncia “neutra”, porém real, para após ter o domínio fonológico da língua, aprimorar-se ao estudar os sotaques de diferentes países. O estudante que pensa no intercâmbio tem por necessidade o estudo social, histórico e cultural do país onde irá aprofundar-se. Devendo previamente evitar contratempos, embaraços, desentendimentos e etc., fatos que podem trazer prejuízos na experiência e absorção do conteúdo vivo que é a língua.

Evitar que estudantes se prendam a fonéticas inexistentes e caricatas da prática do espanhol como língua falada, vindo a ter grande prejuízo durante a conversação real e prática da língua, pode ser o diferencial entre um estudante pronto para a conversação e um ainda não. Estudantes universitários têm como necessário o estudo da Estrutura e Uso da Língua Espanhol, e é aí que muitas vezes se deparam com toca-fitas antigos em que a linguagem castelhana de décadas atrás lhes é apresentada como forma “Padrão” da Língua Espanhola e, por influência de um ensino unidirecional começam a pronunciar “z” sempre como “ /θ/ ” , e de maneira enfática, pois é comum aos que ainda não tem a prática do natural relaxamento vocal da pronúncia, enfatizarem os fonemas que lhes são alheios em sua língua natal.

(..) todos os estereótipos e mitos criados em torno da aprendizagem do espanhol são elementos errôneos, pois não é porque há vários países que falam espanhol, que todos são idênticos. Devemos aprender a conhecer cada cultura, diversidade, variedade e particularidade, e uma vez conhecidas, devemos respeitá-las e agregá-las para uma melhor competência linguística. (SANTANA, 2012, pág. 11.)

É de suma importância que os estudantes também estejam a par das mudanças fonéticas que ocorrem no mundo hispanofalante para que sua fala seja menos obsoleta, embora esta tarefa seja muito difícil, sendo mais do que natural que o estudante que tem pouco contato prático com a língua carregue um forte acento “não natural” ao nativo, passível de xenofonética. Afinal, a grande maioria dos estudantes de licenciatura em letras, terá pela frente a carreira de professor, sendo estes universitários ou não.

A língua é vista como uma atividade, isto é, uma prática sociointeracionista desenvolvida em contextos comunicativos historicamente situados. Podemos dizer, resumidamente, que a língua é um conjunto de práticas sociais e cognitivas historicamente situadas. Podemos dizer que as línguas são objetivações históricas do que é falado. (MARCUSCHI, 2008, p. 61).

O estudo da fonética da língua espanhola também está sujeito à interação sociolinguística. Já é de praxe que professores linguistas afirmem: “a língua é um organismo vivo”. Esta afirmação não é apenas um cartaz bonito que ilustra as transformações naturais da linguagem humana, ela se aplica ao contexto da adequação fonética na qual os estudantes da língua espanhola passarão a policiar ao entrar em contato direto com a fala espanhola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo FONSECA E CANTERO: “(...) a competência fônica não pode ser entendida como algo acessório e sim um elemento inerente à própria competência comunicativa”. Tendo em vista a importância da prática em língua espanhola como parte integrante da aprendizagem e fixação, não é despiciendas o enfoque na “naturalização da fala” ao demonstrar a pronúncia da falante nativo de várias regiões hispanofalantes.

O aluno que se dispõe a aprender uma língua estrangeira deve não só se preocupar com a gramática: o mero encaixe de palavras nas regras. O aluno como um ser falante que é, deve aprender a se expressar de maneira natural. Conseguir traduzir a língua estrangeira com palavras e fones compreensíveis ao ouvinte deve ser de forma natural. Não que o aprendiz deva de imediato ter eloquência nativa, pois isso é praticamente impossível, tendo em vista a complexidade de detalhes que podem diferenciar o estudante do nativo, porém é perspicaz que se possa passar uma mensagem clara e sem empecilhos. Sendo considerado um dos empecilhos para uma mensagem bem transmitida uma palavra mal pronunciada, pois imediatamente o receptor ao identificar o falante como não nativo, tende a ter os valores da mensagem alterados, ainda que estes sejam diretos, efeito citado neste artigo como xenofonética.

A aprendizagem das palavras em seus fonemas “neutralizados”, embora não eficiente para a prática externa, é importante para a assimilação na língua nativa do estudante, pois a memorização das palavras estrangeiras passa primordialmente pelo idioma mental ao qual o estudante conhece para então ser adequada e traduzida para o idioma em que se quer expressar.

Eliana Gonzales Cruz doutora em Linguística Hispânica e membro da Academia de Língua Peruana, nos esclarece sobre o acento neutro: “Esta terminología del acento neutro es un concepto bastante alejado desde el punto de vista lingüístico. Se intenta mantener un concepto o una idea neutral en cuanto a la pronunciación, léxico y la escritura sintáctica, incluso”

A discrepância no ensino do espanhol é tamanha, falando-se em caracterização da diversidade linguística, que não há nenhum curso de idiomas que direcione suas tendências de ensino a culturas latino-americanas. Mais comumente se vê toda uma cultura do espanhol “espanhol”. Quando se fala em espanhol, a primeira ideia que se vem é a bandeira da Espanha. Mas será que esta é apenas uma associação a palavra em si?

Esta admiração exagerada pela linguagem europeia está além das origens da língua castelhana, ela vai até onde o professor Bagno cita: “(...) é nosso eterno trauma de inferioridade, nosso desejo de nos aproximarmos, o máximo possível, do cultuado padrão ‘ideal’, que é a Europa (...).”. O brasileiro tende a cultuar o alheio, e neste caso o alheio é o espanhol europeu.

Não há de fato, nenhum problema em ter os estudos voltados à fonética e linguística europeia, entretanto é importante que o estudante não tenha o espanhol europeu como o “padrão”, ou o espanhol “perfeito”, como se é comum. O espanhol da Espanha e só mais um em diversos outros espanhóis do mundo. Não há, portanto, um espanhol neutro ou “correto”, o próprio estudante durante a sua vida acadêmica deve decidir onde focará os seus estudos que irão além da gramática normativa espanhola.

REFERÊNCIAS

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