domingo, 17 de novembro de 2013

Gritos da cidade

.
A verdade puramente crua
é um lugar distante de nós
onde a mentira traja-se nua
em campo selvagem e atroz.

Mendigando a razão que lhe protegia
a falácia copiada dos outros,
o argumento vago que escondia
o medo que aterroriza-nos.

As coisas que sempre fugimos
damos de ombros hesitantes,
pois aos sustos ainda ouvimos
os seus gritos agonizantes.

Recorremos ao que conhecemos,
queremos a luz que afasta o escuro,
a ignorância daquilo que não vemos,
que repugnamos, que não é seguro.

Ganhamos o dia ao fugir:
conseguir diariamente viver.
É o fim que a nós sorri,
é o monstro que a ti vem comer.

O teu dia é medo, tua noite é ânsia:
acordado, analisas os riscos,
dormindo, sonhas a infância
onde ainda não ouvias os tais gritos.