A verdade puramente crua
é um lugar distante de nós
onde a mentira traja-se nua
em campo selvagem e atroz.
Mendigando a razão que lhe protegia,
a falácia copiada dos outros,
o argumento vago que escondia
o medo que aterroriza-nos.
As coisas que sempre fugimos,
damos de ombros exitantes,
pois aos sustos ainda ouvimos
os seus gritos agonizantes.
Recorremos ao que conhecemos,
queremos a luz que a fasta o escuro,
a ignorância daquilo que não vemos,
que repugnamos, que não é seguro.
Ganhamos o dia ao fugir:
conseguir diariamente viver.
É o fim que a nós sorri,
é o monstro que a ti vem comer.
O teu dia é medo, tua noite ânsia:
acordado analisas os riscos,
dormindo sonhas a infância
onde ainda não ouvias os tais gritos.